16.2.07

Uma guerra entre tubarões e peixinhos

A Associação Paulista de Cineastas (Apaci) distribuiu ontem uma circular bastante esclarecedora, denunciando as pressões que estão sendo feitas pelas distribuidoras norte-americanas sobre o cinema nacional. "Dona Flor e seus Dois Maridos, por exemplo, foi substituído bruscamente por Todos os Homens do Presidente, quando ainda poderia render muito mais. Em três meses de exibição, Dona Flor já ultrapassou 46 milhões de cruzeiros, batendo tranqüilamente Tubarão, que precisou de um ano inteiro para fazer 71 milhões de cruzeiros", informar a circular.

A Apaci diz que não é a primeira vez que isso acontece: filmes como Amadas e Violentadas, de Jean Garrett, Leito da Mulher Amada, de Egídio Eccio, Planalto dos Macacos, de J. B. Tanko – todos foram retirados de cartaz para ceder lugar aos filmes estrangeiros. O que está acontecendo é que a situação do mercado brasileiro, reservando apenas 112 dias para a exibição dos nossos filmes, cria a seguinte contradição: Dona Flor e Xica da Silva são quase suficientes para que os exibidores cumpram a Lei de Obrigatoriedade. Enquanto isso, uma série de filmes também representativos da sociedade e do momento brasileiro se acumulam nas prateleiras.

Como se vê, há tubarões em todos os níveis: tubarões estrangeiros contra os tubarões nativos e estes ameaçando os peixinhos. Uma situação que poderá ficar ainda pior a partir do mês que vem, quando saírem do zoológico hollywoodeano monstros como King Kong, O Urso Assassino e outros animais que são antropófagos, embora não tenham lido Oswald de Andrade. No caso de King Kong, por exemplo, o contrato prevê a exibição ininterrupta do filme em todas as capitais durante pelo menos seis meses. Não é fácil.

(Folha de S. Paulo, 11 de março de 1977)

2 Comments:

At 18:59, Blogger André Setaro said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 19:00, Blogger André Setaro said...

Excelente a idéia de 'depositar' os escritos geniais de Jairo Ferreira.

 

Postar um comentário

<< Home