22.2.07

De Punhos Cerrados


Exibido no FIF de 65, De Punhos Cerrados chega agora a São Paulo, inclusive após suas conseqüências no próprio cinema italiano (Obrigado, Tia) e nacional (Cara a Cara). Tal como Bandido Giuliano, de Rossi, o filme de Bellocchio é um marco violento e deflagrador da nova geração de cineastas italianos. Como impacto, lembra Morte à Fera, de Sugawa, pela maneira raivosa de filmar. É um desses filmes que influenciam toda uma geração. Talvez sob pena de ser castrado, em A China está Perto Bellocchio está menos agressivo. A própria ordem denunciada o tolera...

Copacabana me Engana e Vida Provisória, uma melhor que a outra, trabalham problemas: um personagem de Leite diz que o povo brasileiro é sentimental enquanto de Fontoura dá uma de frouxo. Qual o personagem nacional com coragem para romper? Bellocchio também sabe que o povo italiano é sentimental. Há momentos em que ser humano implica em quebrar com tudo. Bellocchio mostra uma unidade social – a família – em plena desagregação, mal do sistema. Vermes sociais corroem as estruturas. Os personagens mórbidos de Bellocchio lançam germes de renovação. Radical em sua visão política, o cineasta não dá de complacente com seus personagens. Chuta longe a psicologia. Vai ao âmago da questão: doentes, os personagens tomam atitudes alucinadas. O epiléptico Alessandro (Lou Castel, ator genial) desfralda a bandeira da ruptura.

De formação marxista, Bellocchio expressa, sem bitolamentos, essa revolta que marca o início do quebra pau. É terrível sua crônica da morbidez de uma família italiana pequeno-burguesa rural-urbana. O diretor guarda no bolso os punhos cerrados, e esmurra sem piedade. Despojado na linguagem, Bellocchio agride nos cortes de uma seqüência a outra, além de derramar em cada ação a exata dose de ódio. Esta cerimônia de violência infernal contém algumas verdades que 99% das pessoas não querem ver. Levando a bom termo a desagregação familiar, Lou Castel atira no abismo a mamãe cega. Maravilhoso o estrebucho final operístico. Cinco estrelinhas!

Jairo Ferreira

(São Paulo Shinbum, 21 de agosto de 1969)

1 Comments:

At 10:57, Blogger Fernando Niero said...

que belos textos, parabens mesmo pela iniciativa

 

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